quinta-feira, 19 de maio de 2022

Pisadeira — conto de Gabriel Sanchez

Há dias que ele não conseguia dormir direito. O peso do cansaço acumulado de noites mal dormidas agora era evidente no rosto de Marcos no formato de olheiras fundas. O problema era como consertar essa situação. Entenda, Marcos estava bem; o problema era sua namorada.

Gabriela foi morar com ele faz cinco dias. Cinco noites mal dormidas. Para Marcos. Sua namorada nem suspeita. Para ela, as noites são comuns. 

Mas como Marcos pode dormir com aquela visão tenebrosa ao seu lado? Gabriela com as costas arqueadas, como se um gancho estivesse a puxando para o alto. Sua boca aberta com um grito inaudível. Seus olhos arregalados.

E pousada sobre Gabriela, a criatura. Uma porra de uma jovem demoníaca com o formato muito similar ao de uma gárgula.

Marcos não dormiu nas primeiras duas noites, recostado no canto do quarto, paralisado. Nas últimas noites, inventou um problema para dormir na sala. Mas toda madrugada, às três horas, ele abre a porta do quarto de fininho e lá está toda aquela cena absurda.

— Pisadeira. Uma pisadeira está perturbando sua namorada. — disse a cartomante. Ele não relevou o papo do padre de que ela precisava de “mais Deus”.

Marcos não está preparado. O método para poder matar uma merda dessas é ridículo. Você precisa dormir ao lado da pessoa perturbada e acordar, sem auxílio, exatamente às três horas, desferindo imediatamente o golpe com a adaga consagrada. Falhar pode ser fatal.

Como que dorme com uma porra dessas na cabeça!? Fato é que Marcos dormiu, não por vontade própria. Oh, não. Ao acordar às três, sua mente rapidamente ativou seu braço para acertar a criatura. Mas seu braço estava pendurado, suas costas arqueadas. Seu olhar fixo na pisadeira sobre seu peito, sorrindo saciada. Ao seu lado, sua namorada acariciava o corpo de Marcos, com uma adaga em mãos. 

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